Perspectivas de interação com perfis de usuários mortos no Facebook

• Daniele Trevisan UFMT
• Cristiano Maciel UFMT
• Vinícius Carvalho Pereira UFMT
• Roberto Pereira UFPR

Resumo

Com a pandemia de Covid-19, a morte se tornou um fenômeno cada vez mais presente e visível nas redes sociais. No Facebook, não há um tratamento homogêneo da morte entre os perfis dos usuários falecidos: alguns permanecem ativos, enquanto outros são transformados em memoriais, mas os critérios para essa transformação não são claros. Em ambos os casos, as configurações de privacidade limitam a interação. Essas diferentes possibilidades dão origem a diferentes interações e reações entre os usuários. Este artigo aborda como os perfis de usuários mortos, multiplicados pela atual pandemia, têm sido tratados pelo sistema técnico-social do Facebook, em comparação com possíveis interações póstumas no mundo físico. Nosso principal objetivo é entender até que ponto o sistema técnico do Facebook apóia ou restringe as interações sociais em relação à morte de usuários. Realizamos uma análise exploratória qualitativa dos dados de 54 perfis do Facebook pertencentes a pessoas falecidas entre junho de 2020 e março de 2021. Entre outros resultados, constatamos: que o Facebook não divulga os critérios de transformação de perfis ativos em memoriais e quem são seus contatos de herdeiros; que há diferença na quantidade e frequência de interações entre os perfis transformados em memoriais e os que permanecem ativos; e que as configurações de privacidade dos perfis interferem na interação social. Essa situação influencia diretamente nas formas como outros usuários se relacionam ou não com tais perfis, o que é um objeto de suma importância nos estudos da Interação Humano-Computador, principalmente quando se considera a interação como existência.

Palavras-chave: Interação social, existência, morte, memorial digital, Facebook, COVID-19, pandemia, Digital Legacy Management Systems